Patrimônio da Humanidade, Pantanal se recupera com iniciativas de regeneração e prevenção à incêndios

Por Funatura

29 de dezembro de 2023

Recuperar um ecossistema não é uma tarefa fácil e muito menos rápida. Levam-se anos de dedicação, ações de manutenção, estudos de monitoramento e, ainda assim, há de se contar com a sorte contra adversidades.  E tudo isso se intensifica quando falamos de um bioma tão peculiar como o Pantanal, reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que segue ameaçado pelos grandes incêndios que, em sua maioria, começam pela ação humana.

Durante mais de 18 meses o projeto “RPPN Sesc Pantanal – Recuperando e Protegendo” somou esforços para recuperar a vegetação nativa da maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil (RPPN Sesc Pantanal), atingida pelos incêndios de 2020 no Pantanal mato-grossense. Localizada em Barão de Melgaço-MT, a área possui 108 mil hectares e se dedica à conservação  desse 1% da área total do bioma.

O projeto “Recuperando e Protegendo”, desenvolvido pela Funatura em parceria com o Polo Socioambiental Sesc Pantanal, instituição da qual a RPPN faz parte, tem três objetivos básicos: o desenvolvimento de dois Planos Estratégicos, um voltado à recuperação de áreas degradadas dentro da RPPN, e outro para execução do Manejo Integrado do Fogo. Ambos têm subsidiado ações que estão em execução, como a  recuperação de 30 hectares de mata nativa em áreas de secas e tabocais. “na parte do manejo integrado do fogo, além da elaboração do Plano, sob a responsabilidade da especialista Lívia Moura, a gente fez uma série de capacitações, aquisição de alguns equipamentos, a perfuração de dois poços tubulares profundos para facilitar na obtenção de água para a eventual necessidade de combate ao fogo”, conta Cesar Victor do Espírito Santo, coordenador do projeto pela Funatura.

O ecólogo e gestor da RPPN Sesc Pantanal, Alexandre Enout, explica que por meio do Plano de Manejo Integrado do Fogo (PMIF) é possível compreender como o fogo age dentro da RPPN, os impactos, que tipo de ambiente tolera melhor o fogo e qual não tolera. “Com o PMIF, o objetivo é ter um avanço em relação à prevenção dos incêndios florestais e ao manejo da paisagem para o benefício da conservação da natureza da RPPN. Nesta construção, o trabalho colaborativo junto à comunidade do entorno, formada por populações tradicionais, indígenas e produtores rurais, é primordial para o entendimento sobre o uso cultural do fogo no bioma e também para que o conhecimento sobre a técnica seja compartilhada”, destaca Enout.

Cesar enfatiza que a atuação de múltiplos atores torna o projeto mais assertivo e rico. “A gente envolveu pessoas das comunidades, da academia e os técnicos, no sentido de realmente entender que essa união de esforços é o que vai dar os resultados mais positivos”, afirma.

Plantio das mudas em área seca

A preparação das áreas requer uma “limpeza das áreas” como se diz no campo. São feitas intervenções para proporcionar o melhor desenvolvimento das mudas, como roçagem da área, facada ecológica, retirando cipós e trepadeiras que impedem a chegada do sol e a abertura de berços para as mudas.

Mudas que chegam para recompor a paisagem natural de uma das áreas mais belas no Brasil, que tem títulos internacionais de Sítio Ramsar e Zona Núcleo da Reserva da Biosfera, que demonstram a importância da unidade de conservação. “Uma das características do Pantanal é você ter uma diversidade de paisagem. Tanto é que muitos autores chamam de complexo do Pantanal. É por causa dessa diversidade de paisagem, de tempo, de história, de idade desses lugares, a presença de água ou não e assim por diante”, conta com entusiasmo a professora Dra. Cátia Nunes, coordenadora científica do Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas. Segundo a Dra. Cátia, o projeto é de extrema relevância porque atende uma das fisionomias, um macro-hábitat, de maior importância para a parte central do Pantanal, que é uma floresta relictual, formada por um conjunto de espécies que difere ao longo de toda a sua extensão.

Esse conjunto de diferentes formações florestais possui áreas extremamente diferentes do que é o normal das florestas dentro do Pantanal, conta Cátia Nunes, por isso a visita a campo é um fator decisivo para o desenvolvimento de uma estratégia de atuação que leve em consideração o conjunto florístico, o solo, as peculiaridades. “Estamos buscando principalmente o enriquecimento, trazer para essas florestas muitas das espécies que estão com populações comprometidas pelo fogo,”, resume Kátia.

Cultivo das mudas pelas comunidades pantaneiras

São nos viveiros comunitários das comunidades de Capão de Angico (Poconé/MT) e de São Pedro de Joselândia (Barão de Melgaço/MT) que as mudas são produzidas, em sua maioria pelas habilidosas mãos de mulheres como Miriam Amorim, 30 anos, que atua também como Mobilizadora Social do projeto, auxiliando na gestão, venda de mudas e articulação.

Pantaneira, Miriam diz que conheceu o “Pantanal Verde” e que de lá pra cá essa realidade mudou muito, principalmente devido ao grande aumento do número de incêndios e a extensão que eles têm atingido. Ela enxerga o plantio de mudas como uma ajuda para que a natureza vá se regenerando com o reforço das espécies nativas que são introduzidas.  

Rozemeiri Carmem é uma das viveiristas. Ela relata que seu trabalho começa com a coleta das sementes e, em seguida, passa por todas as etapas de produção e manejo das mudas até que estejam prontas para recompor a vegetação em áreas degradadas. Para ela, o projeto é uma forma de contribuir com o meio ambiente e, ao mesmo tempo, garantir uma renda familiar. Rozemeiri destaca que os benefícios dessa ação se estendem a todos: “Daqui a alguns anos, teremos mais árvores na natureza. Elas produzirão frutos que servirão de alimento para os animais, contribuindo assim para a vida no solo pantaneiro”.

Para Pedro Bruzzi, superintendente Executivo da Funatura, “uma característica super importante desse projeto é justamente a participação e envolvimento das comunidades”, em visita a um dos viveiros do projeto, Pedro reforçou a importância da participação das comunidades. Para ele, os viveiros refletem essa característica positiva do projeto de envolver as pessoas nas atividades de restauração, de produção de mudas, criando uma consciência socioambiental que fará a diferença no futuro da região.

Futuro esse que vem mudando ano após ano devido ao aquecimento do planeta e a mudança climática. Tanto Miriam como o guarda-parque da RPPN Sesc Pantanal, Alessandro Amorim, que vivem na região, já sentem na pele, no clima, na natureza, no dia-a-dia os impactos da mudança.

“O maior desafio que a gente vem passando é essa seca no Pantanal. Porque o que está fazendo com que o Pantanal pegue fogo é essa tremenda seca que vai passando por ele. Cada vez diminuindo a chuva, cada vez diminuindo a água. Então, o trabalho de plantio está muito difícil em relação a isso. O período de seca está muito maior do que o período que seria de cheia” analisa e alerta Alessandro. 

Mirian é categórica em afirmar que a ação humana é a responsável pelas transformações que o planeta vem passando, ela reflete que nem o Pantanal, nem o mundo estariam nessa situação se o modo de vida fosse sustentável e respeitoso com a natureza. “E o que eu falo é isso, vamos cuidar, vamos preservar. Se você não puder fazer nada de bom, não faça nada de ruim. Não faça queimadas, não corte uma árvore, porque faz muita diferença pra gente, principalmente aqui no Pantanal”, ensina.

União de esforços:

O projeto “Projeto RPPN Sesc Pantanal – Recuperando e Protegendo” é realizado pela Fundação Pró-Natureza (Funatura), em parceria com o Polo Socioambiental Sesc Pantanal / RPPN Sesc Pantanal e apoio da instituição Mulheres do Pantanal (Mupan), da Wet Lands International e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INAU). Conta com o financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) por meio do Projeto Estratégias de Conservação, Recuperação e Manejo para a Biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com as agências Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como implementador e o Fundo Brasileiro de Biodiversidade (FUNBIO) como executor.

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