A Funatura registra uma atuação histórica no Parque Nacional Grande Sertão Veredas (Parna GSV) com um conjunto de projetos desenvolvidos na região para apoiar ações de conservação da sociobiodiversidade do Cerrado. A Fundação desempenha o papel de agente facilitador de inciativas de proteção, pesquisa e uso público do Parque, com o uso sustentável dos seus recursos naturais. Essas ações se estendem para a zona de amortecimento e unidades de conservação (UCs) que formam o Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu (Mosaico SVP).
O sonho de proteger o Cerrado
Até o começo da década de 1980, era só o que havia: 13 milhões de hectares de Cerrado na região dos Gerais, imensos e desprotegidos contra a rápida e desordenada ocupação, agravada pelo asfaltamento da BR 020 e o baixíssimo custo das terras. A luta para a criação de uma Unidade de Conservação que garantisse a integridade do bioma dos cenários da obra de João Guimarães Rosa começou em 1986, encabeçada pela Funatura. Foram três anos de luta, até o Parque Nacional Grande Sertão Veredas ser criado, com a assinatura do Decreto Lei 97.658, de 12 de abril de 1989.
Parque Nacional Grande Sertão Veredas
Administrado em cogestão entre a Funatura e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Parna GSV foi, por muitos anos, o principal projeto desenvolvido pela Fundação, a partir do qual vários outros foram iniciados e estão em pleno desenvolvimento.
Conhecer e garantir a preservação da região, na qual Parque foi criado, sempre esteve entre as prioridades da Funatura, que foi responsável, inclusive, pela elaboração de seu Plano de Manejo, principal referência para pesquisadores e estudos realizados, ao longo dos anos.
Antes da criação do Parna GSV (Decreto Lei no. 97.658, de 12/04/1989), os 13 milhões de hectares (ha) de Cerrado, na região dos Gerais, estavam totalmente desprotegidos. Havia uma rápida e desordenada ocupação, agravada pelo asfaltamento da Rodovia BR-020 e o baixíssimo custo das terras. Houve um enorme empenho para a criação de um parque nacional naquela área. Em 2004, 15 anos após sua criação, a área do Parna GSV foi ampliada oficialmente, o que garantiu a proteção de 231 mil ha ameaçados pelo avanço da agricultura, desmatamentos criminosos, construção de estradas e carvoarias clandestinas.
Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu
Em 2008, a equipe técnica da Funatura publicou o Plano de Desenvolvimento Territorial de Base Conservacionista do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu (Mosaico SVP), para promover o desenvolvimento em bases sustentáveis e integradas ao manejo das áreas protegidas da região.
São parceiros da Fundação, nessa iniciativa: Agência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável de Chapada Gaúcha (Adisc), Agência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Vale do Rio Urucuia (Adisvru), Cáritas de Januária/MG, Instituto Estadual de Florestas (IEF/MG) e Prefeitura Municipal de Chapada Gaúcha/MG, entre outros.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) reconheceu o Mosaico SVP, por meio da Portaria nº 128, de 24/04/2009. Com foco na gestão integrada das UCs e demais áreas protegidas, entre seus objetivos estão a implementação de práticas de extrativismo vegetal e geração de renda para os produtores e compatíveis com a proteção das UCs.
Por suas características naturais, a o turismo ecológico é uma das atividades potencialmente adequadas para a região. Inúmeras estradas, sem pavimentação, cortam a área do Mosaico SVP. Uma dessas estradas atravessa, praticamente, toda a sua extensão e pode ser caracterizada como uma estrada-parque.
O mosaico de UCs e outras áreas protegidas localiza-se na margem esquerda do Rio São Francisco, nas macrorregiões norte e noroeste de Minas Gerais (Formoso, Arinos, Chapada Gaúcha, Urucuia, Cônego Marinho, Januária, Itacarambi, Bonito de Minas, São João das Missões e Manga) e uma pequena parte do município de Cocos (sudoeste da Bahia). Com uma área total de mais 1.500.000 hectares (ha), o Mosaico SVP abrange inúmeras unidades de conservação (UCs):
- Área de Proteção Ambiental (APA) do Peruaçu
- APA Estadual do Cochá e Gibão
- APA Estadual de Pandeiros – inclui o Refúgio de Vida Silvestre (RVS) do Pandeiros
- Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
- Parque Nacional Grande Sertão Veredas
- Parque Estadual Veredas do Peruaçu
- Parque Estadual da Mata Seca
- Parque Estadual da Serra das Araras
- Reserva Desenvolvimento Sustentável (RDS) Veredas do Acari
- Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Veredas do Pacari
- RPPN Arara Vermelha
- RPPN Fazenda Ressaca
- Terra Indígena Xacriabá
Estrada-Parque Guimarães Rosa
Um dos estudos realizados pela Funatura, na área de abrangência do Mosaico SVP, a Proposta de Reconhecimento Oficial da Estrada-Parque Guimarães Rosa (EPGR) foi encaminhada aos órgãos governamentais de Minas Gerais, em 2012. Essa proposta reuniu o Diagnóstico Social, Econômico, Ambiental e Cultural da região de influência da EPGR, para facilitar o turismo ecocultural regional.
Participaram da inciativa as prefeituras municipais da área do Mosaico SVP, órgãos dos governos federais e estaduais, associações comunitárias, sociedade civil e instituições de ensino.
Por toda a extensão da EPGR e entorno das UCs que formam o Mosaico SVP encontram-se importantes referências dos patrimônios social, ambiental e cultural, em especial nos lugares tão bem descritos na obra de João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. No Brasil, o termo “estrada-parque” ainda é pouco conhecido e, por isso, as existentes possuem conceitos diferenciados e adaptados conforme a legislação de cada estado.
A EPGR possibilitará o desenvolvimento de estratégias turísticas e educativas baseadas no conceito de percepção ambiental, integrando os aspectos ambientais e culturais às paisagens. O fortalecimento do turismo ecocultural para visitação dos atrativos naturais e culturais apresenta grande potencial de geração de renda para os vários segmentos do comércio e outras atividades produtivas na região. Entre os benefícios para populações locais, a EPGR também trará melhorias nas vias de acessos às comunidades, por meio da sinalização e obras de infraestrutura.
Encontros dos Povos do Grande Sertão Veredas
A Funatura tem apoiado, desde 2002, a realização de eventos que reúnem populações tradicionais do Cerrado e valorizam suas expressões culturais e tradições, como o Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas, realizado em Chapada Gaúcha/MG.
O objetivo é a promover o intercâmbio entre as comunidades da região e estimular a conservação da biodiversidade por meio da colaboração mútua, participação e construção de atividades sustentáveis, nas reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs).
Realizado em municípios do entorno do Parna GSV, o Encontro recebe apoio das prefeituras municipais e mobiliza grande parte da população em sua organização. Entre as atrações do evento, estão a feira de artesanato e comidas típicas, apresentações musicais e teatrais. A programação inclui oficinas de capacitação, seminários e outras reuniões de interesse comunitário.
O 1º Encontro dos Povos da Chapada dos Veadeiros aconteceu em maio de 2002, em Alto Paraíso/GO. Esse evento – ao contrário do Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas, foi realizado em diferentes cidades goianas (Cavalcante, Colinas do Sul, São João da aliança, Teresina de Goiás, entre outras). A Funatura também promoveu, em parceria com várias organizações, o Encontro de Arte, Cultura e Meio Ambiente (Formoso/MG) e o Encontro dos Povos do Cerrado (Brasília/DF).