XXI Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas

Por Funatura

20 de julho de 2023

Por Cesar Victor do Espírito Santo
Engenheiro Florestal
Membro da Fundação Pró-Natureza – FUNATURA
Conselheiro do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA

Participei neste final de semana (14 a 16/07/2023) do XXI Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas. Pude constatar a força que o Encontro ainda possui depois de mais de 20 anos, desde a sua primeira edição em 2002, especialmente a grande presença de membros das comunidades tradicionais do município da Chapada Gaúcha, além de outros municípios que fazem parte do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu, com destaque para Formoso, Arinos e Januária, que possuem terras no Parque Nacional Grande Sertão Veredas.

Foi uma satisfação encontrar e rever amigos que há tempos não via. Foi emocionante assistir as apresentações de diferentes grupos de folia de Reis, dança de São Gonçalo, danças de roda, lundu, Manzuá, dentre outras manifestações artísticas, que ainda se mantém forte, garantindo a perpetuação da cultura das comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas que vivem no território do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu. Destaco, sem demérito aos demais, já que não pude assistir tudo, as lindas apresentações dos grupos das comunidades do Ribeirão de Areia, do Retiro dos Bois, de Serra das Araras e do Povo Xacriabá. Muito bonito as músicas, as danças, o toque das violas, o som das caixas, os instrumentos, as roupas coloridas. Muito bacana, também, a apresentação conjunta do Manzuá, que envolveu as comunidades do Retiro dos Bois e do Ribeirão de Areia. Acrescento, ainda, as histórias do romance Grande Sertão Veredas, tão bem contadas por Elson Barbosa, guia turístico nativo. Especialmente emocionantes foram a chegada dos caminhantes que fizeram a travessia de Sagarana ao Grande Sertão Veredas e, também, ouvir a gaita tocada por Seu Belini, um dos gaúchos pioneiros que chegaram à região do Grande Sertão Veredas em meados da década de 1970 para trabalhar no agronegócio e que participa desde o primeiro Encontro, proporcionando a integração entre a cultura gaúcha e a cultura mineira.

Desta forma, reforço a importância deste Encontro para o município e para a região do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu, que objetiva a valorização das tradições culturais e sua correlação com a preservação da natureza, com o turismo e com a produção sustentável da agropecuária e de produtos do Cerrado.

Em função disso, entendo que o Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas nasce do fazer juntos, com o respeito ao tempo das comunidades e da própria produção do evento, reforçando aquele sentimento de pertença, do trabalho em parcerias, da construção conjunta entre o poder público, a sociedade civil organizada e as comunidades, fortalecendo a democracia participativa.

O Encontro não é apenas uma festa. É o momento culminante de algo que deve começar a ser preparado com meses de antecedência, momento em que é reativada a sua comissão organizadora, as subcomissões, o esforço na captação de recursos, o envolvimento das escolas, das comunidades, dos parceiros. A partir daí se define o tema do Encontro, dando o norte para que o assunto possa ser trabalhado em salas de aula, na definição das mesas redondas e oficinas, na preparação do “Corredor da História”, na condução de concurso entre alunos para a confecção da arte do cartaz do Encontro, dentre outros aspectos.

As mesas redondas e oficinas são espaços de debates sobre políticas públicas e troca de experiências e informações de interesse das comunidades locais. São momentos ricos que devem ser planejados com antecedência e com a garantia da participação de pessoas que possam trazer e apresentar informações importantes para o meio ambiente, a cultura e a produção sustentável no território.

A feira também deve ser planejada e preparada com antecedência para que as comunidades possam apresentar e vender seu artesanato, seus produtos do Cerrado, sua culinária sertaneja.

As apresentações culturais são o momento maior do Encontro e para que isso seja valorizado, deve-se prever tempo suficiente para que as comunidades se preparem, com ensaios das apresentações, com a confecção de roupas, dentre outros aspectos, que muitas vezes demandam meses. Deveriam atender, na medida do possível, todas as comunidades que desejam se apresentar e que se prepararem para isso.

Os shows, no fechamento de cada noite, deveriam privilegiar as tradições do Sertão, com apresentações de grupos de viola caipira e de forró tradicional pé-de-serra, sem a necessidade de gastos elevados com grupos famosos.

Por fim, o local do Encontro, que nos dois últimos anos aconteceu no espaço de exposições agropecuárias, lugar escondido entre muros, no canto da cidade, sem estrutura e na terra batida. Entendo que o Encontro deve acontecer na praça central Euclésio Gobbi, espaço mais nobre da cidade, amplo e mais aprazível para todos, onde a prefeitura estará mostrando a cidade e valorizando a cultura de seu povo.

Com isso, o espírito do Encontro estará valorizado e mantido: encontrar, rever, contar histórias, mostrar a cultura tradicional, dançar, cantar, namorar, comer comidas típicas, levar lembranças do Cerrado e de seus povos, ouvir, falar, trocar experiências, debater e valorizar a democracia.

Viva o Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas! Brasília, 20 de julho de 2023.

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