COP28: Nada como Novo – Entre o Cerne e o Verniz

Por Funatura

15 de dezembro de 2023

Por Pedro Bruzzi

É tempo de inovar e de fazer diferente! O planeta, a sociedade e cada um de nós precisamos empreender mudanças e fazer a diferença. As mudanças individuais e coletivas para melhor, para níveis de maior organização, compromisso ético e evolução sempre são acompanhadas de um forte atrito, uma força contrária que faz de tudo para que as mudanças não aconteçam. A conhecida zona de conforto é a maior inimiga das mudanças necessárias e urgentes.

Na esteira da novidade, que veio dar o deserto, a Funatura, junto com a Rede Cerrado, levaram à Conferência do Clima a bandeira do Cerrado! Com “C” maiúsculo, com as honras e glórias que o bioma merece, dentro das possibilidades mobilizadas. Considerado um bioma esquecido à sombra da vultosa Amazônia, aos poucos, o Cerrado vem ganhando importância na opinião pública. Não sem um grande esforço de mudança e inovação! Com a campanha articulada pela Rede Cerrado: “Cerrado e Amazônia Conectados pela Água”, realizamos um ato público em plena COP28, que obteve uma importante repercussão inédita! Adicionalmente, a campanha indica a pavimentação do caminho para a COP30 em Belém.

A força do movimento pelo Cerrado emana das redes. A Rede Cerrado é a base que traz consigo a representatividade dos Povos e Comunidades do Cerrado. Nossa rede de organizações de assessoria, a partir da iniciativa Tamo de Olho, tem organizado as pautas políticas em uma plataforma com diálogo, escuta ativa e ampla participação social. Com o “Tô no Mapa”, a luta pelo reconhecimento dos direitos territoriais dos povos e comunidades tradicionais do Cerrado tem encontrado eco a partir dos princípios da autodeterminação dos povos e comunidades tradicionais.

Olhar a participação do Governo Brasileiro na COP28 na perspectiva da sociedade civil e do movimento social é um desafio de grandes contradições e um convite ao exercício da sabedoria. Logo no início da conferência, a adesão à OPEP e nos últimos dias a notícia do Leilão do Fim do Mundo fizeram com que, de forma irônica, o Secretário João Paulo Capobianco comentasse – se tivéssemos combinado essas ações, certamente não seríamos tão eficientes.

Mesmo em nossas inevitáveis e inadiáveis contradições, uma coisa pode ser trazida como certa – a equipe do Governo brasileiro foi liderada com muita propriedade pelas Ministras Marina Silva, Sônia Guajajara e pelo Embaixador André Corrêa do Lago. Observar quadros tão qualificados de volta ao jogo da negociação, recolocando o Brasil na posição a qual nunca deveria ter saído, foi muito gratificante.

A surpresa trazida no texto final da conferência ocorrida nos Emirados Árabes, presidida por um executivo do setor de petróleo, em um ambiente em que as esperanças estavam sendo depositadas em Belém, pois em certo momento o pessimismo alcançou o Azerbaijão, próxima sede, mesmo antes da confirmação final, eis que surge no texto “fazer a transição para fora dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos”. Talvez os eventos drásticos, as tragédias vivenciadas ou a vontade de mudar possam estar nas causas. De fato, ainda é muito pouco, falta o como, com quais recursos, entre tantos, mas afinal é algo novo!

A participação da Funatura na conferência foi fundamental. Voltamos com aprendizados e diversas articulações abertas e em curso, para o fortalecimento da sociedade civil em novas agendas, programas e projetos fundamentais, para que possamos enfrentar os grandes desafios trazidos no bojo do ativismo socioambiental, na luta pela conservação ambiental.

De volta ao Brasil, reforçamos o nosso compromisso em bloco junto à Rede Cerrado e aos nossos parceiros da Sociedade Civil, para contribuir e incidir de forma ativa no grande desafio de conter o desmatamento desenfreado no Cerrado. Após dois anos com a taxa PRODES acima dos 10 mil quilômetros quadrados, o bioma vive uma crise dramática. É fundamental o estabelecimento de um pacto pelo controle do desmatamento, liderado pelo poder executivo federal, envolvendo os governos estaduais em que a transparência possa ser priorizada sobre os processos de licenciamento, fiscalização e controle. Que possa ocorrer o fortalecimento dos órgãos estaduais de meio ambiente dos 9 estados que têm Cerrado e tornar efetivo o controle sobre as autorizações de supressão vegetal, áreas embargadas, entre outras. Para que seja possível separar o joio do trigo e identificar a parte ilegal do desmatamento supostamente legal. Que pelo menos se tenha segurança jurídica e cumpra-se a lei na agenda ambiental do nosso Cerrado, o mais ameaçado bioma brasileiro.

Compartilhe nas suas redes!

Notícias relacionadas

Ler mais notícias

Assine nossa newsletter

Receba as notícias da Funatura diretamente na sua caixa de e-mail.