Trilha Krahô, no Jardim Botânico de Brasília, une natureza e cultura

Por Funatura

12 de janeiro de 2022

Janice Affonso, com a obra Sol e Lua: a artista visual e educadora ambiental coordenou os trabalhos artísticos na Trilha Krahô. Foto: Letícia Verdi

Considerada um elemento pedagógico pelos educadores ambientais do Jardim Botânico de Brasília (JBB), a Trilha Krahô foi restaurada e, agora, os visitantes podem reconhecer elementos da cultura indígena enquanto caminham pelo bioma Cerrado. Com 1,8 km de extensão, a trilha foi inaugurada em 2016 por meio do projeto Plantando o Futuro, do Instituto Bancorbrás, com parceria da Funatura e do JBB.

Para a diretora executiva do JBB, Aline de Pieri, a revitalização tornará a visita uma experiência ainda mais transformadora. “A Trilha Krahô valoriza a cultura dos indígenas do Cerrado. A proposta provoca as pessoas a observarem detalhes que costumam passar despercebidos. A partir dessa reflexão, (a trilha) promove uma nova relação com o meio ambiente”.

No dia da inauguração, o consultor indígena convidado, Feliciano Krahô, conduziu uma oficina de pintura corporal e um ritual de pajelança para, segundo os costumes tradicionais, trazer os bons espíritos ao local.

“Para o meu povo, a natureza ensinou muitos mistérios: ensinou a conhecer os frutos e plantas do Cerrado e, neste chão, plantar mais do que nossos alimentos, a nossa cultura”, disse Feliciano.

Segundo os indígenas, as árvores, a natureza e o ser humano fazem parte de um todo harmônico e interdependente. Por isso, e por serem fonte de vida e subsistência, as terras indígenas são os territórios com maior proteção e respeito ao meio ambiente no Brasil.

“É como se as plantas fossem gente”, comenta o engenheiro florestal e coordenador de projetos na Funatura, Fernando Lima, a respeito da relação dos indígenas com a natureza.

Feliciano Krahô indicou algumas espécies para serem plantadas ao longo da trilha, com base nos costumes do povo krahô do Tocantins, originário do Cerrado. No total, foram 1,7 mil mudas. “Logo na entrada, ele sugeriu uma palmeira jussara, que, para a cultura deles, tem um significado de proteção e abertura de caminhos”, explicou Fernando.

ARTE

A cultura dos povos originários do Brasil foi inspiração para a artista visual e educadora ambiental Janice Affonso, que coordenou a oficina de pintura de grafismo indígena com o público do JBB, à época da inauguração da trilha. Ela também convidou 12 artistas de Brasília para pintar, com ela, troncos que marcam os locais de contemplação ao longo do percurso.

Nandana, José Ivacy, Mara Nunes, Estefania Fernandes, Glênio Lima, Rômulo Andrade, Maxi Kokay, Leci Augusto, Ricardo Stumm, Marcos Morello e Cida Andrade foram os artistas convidados. No mês de setembro deste ano, as pinturas foram restauradas com tinta nova e revitalizadas por iniciativa da própria Janice.

“A trilha foi dividida em quatro etapas para trabalhar com as sensações e sentidos que os elementos da natureza nos trazem. O ar, a respiração, os sons do vento; a terra, representada pelos animais; o fogo, com o sol e o calor; e a água, com a mudança do clima pela umidade. É como se os totens fossem pessoas que simbolizam a proteção, a contemplação e a arte”, explica Janice.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Para o educador ambiental do JBB, o biólogo Lucas Miranda, a trilha é o espaço de aprendizagem mais rico do Jardim. “É o nosso xodó, o elemento pedagógico mais completo que temos. Nela, mostramos que a vida não acontece isoladamente da história, da cultura e da geografia”, diz ele.

“O que fazemos é uma caminhada com aula de sustentabilidade, passando pelos aspectos históricos de ocupação do solo no Cerrado, em especial no Distrito Federal”, explica Lucas. Com ele, a bióloga e educadora Milena Castro também conduz os grupos na mesma pegada.

No início do passeio, os visitantes (crianças ou adultos) são convidados a ficar em silêncio e a praticar uma caminhada meditativa, percebendo os sons da natureza e observando a flora nativa.

NASCENTE

A trilha chega até a nascente do Córrego Cabeça de Veado, que dá nome à Área de Proteção Ambiental (APA) onde fica a Estação Ecológica Jardim Botânico de Brasília, que protege 4,5 mil hectares de vegetação.

“Relaxe, descanse e ouça o barulho da mata. Perceba a interação da água e as raízes das árvores. Observe como a intervenção artística foi pensada para se integrar ao ambiente natural. É importante saber que seres humanos também são capazes de impactar positivamente a natureza”, diz o guia dos visitantes produzido pela equipe de educação ambiental do JBB.

O JBB e Funatura pretendem ampliar o projeto em 2022, com a ambientação do quiosque localizado no percurso da trilha e a construção de uma oca ou sala de exposição sobre a cultura indígena. As instituições estão à procura de financiadores interessados.

CERRADO

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro em extensão e abriga uma flora e fauna megadiversa. A vegetação tem características marcantes, como árvores retorcidas e troncos com cascas grossas. A estimativa é que o Cerrado abrigue 12 mil espécies de plantas.

O bioma é conhecido como o “berço das águas”, pois as nascentes de três grandes bacias hidrográficas da América do Sul estão em seu território. Apesar de sua importância, o Cerrado sofre com forte desmatamento, principalmente devido à pressão caudada pela expansão das fronteiras agrícolas.

JARDIM BOTÂNICO DE BRASÍLIA

O Jardim Botânico de Brasília foi inaugurado em 1985 com o objetivo de ser referência no bioma Cerrado. É uma área protegida, criada para a constituição e manutenção de coleções de plantas, desenvolvimento de pesquisas, educação ambiental e lazer orientados para a conservação da biodiversidade. São mais de 500 hectares de área aberta à visitação, com jardins temáticos, restaurantes, parquinho infantil e trilhas.

 

SERVIÇO

Trilha Krahô no Jardim Botânico de Brasília

Aberta para visitação de terça-feira a domingo, inclusive feriados, das 9h às 17h, com entrada permitida até às 16h40.

Entrada gratuita para pedestres e ciclistas entre 7h30 e 8h50

Ingressos a R$5, somente em dinheiro

Crianças menores de 12 anos, idosos e pessoas com deficiência não pagam

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