RPPN Flor das Águas é aberta ao público

Por Funatura

23 de janeiro de 2013

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Moradores de Brasília que nos finais de semana invadem as ruas da romântica Pirenópolis terão mais motivos para pegar a estrada em direção à cidadezinha de Goiás. A Fundação Pró-Natureza (Funatura) abre ao público as portas de sua Reserva Particular de Patrimônio Natural – a RPPN Santuário de Vida Silvestre Flor das Águas –, criada no município há 11 anos e que até agora se mantinha restrita a estudos científicos e a poucos visitantes. A área de bela paisagem e águas correntes não será apenas um novo atrativo para o turismo ecológico, mas alternativa para atividades que estimulem o conhecimento e a proteção do cerrado.

A RPPN tem 43 hectares, no Morro do Frota, a cerca de 150 km de Brasília e 120 km de Goiânia. E é drenada pelo córrego Vagafogo, que deságua no rio das Almas, formador do Tocantins. O riacho nasce ao sul de uma crista de quartzitos brancos e corre em declive pela Serra dos Pirineus.

“Aqui foi uma região de mineração de ouro e estava superdegradada. Fizemos trilhas, aceiros, reformamos tudo”, conta o coordenador da reserva, Adolpho Kesselring. Os caminhos sinuosos para passeios na mata obedecem o comando da natureza, desviando-se dos troncos de árvores. Mesmo os mais fininhos foram deixados intactos, garantindo a reprodução do cerrado. As tábuas irregulares são restos de árvores mortas e foram acomodadas com maestria ao solo. A obra surpreendeu moradores da vizinhança. Eles ficaram admirados com a qualidade e o rendimento do material que geralmente apodrece em suas propriedades.

O Plano de Manejo feito para a utilização da RPPN teve a participação de mais de 20 cientistas. Nesse levantamento, foram registradas 189 espécies de plantas. Entre elas, uma das mais belas árvores brasileiras, o pau d’óleo, que exibe lindos cachos de flores amarelas, sem folhas, na época de seca. Também sobressaem na paisagem os cajueiros nativos, ipês, muricis, mangabas, pequizeiros e jatobás.

RPPNFA 210Pesquisadores se equiparam com binóculos e gravadores para capturar cantos de aves que vivem na região. Eles passaram um mês inteiro estudando o local, para conhecerem inclusive a dieta dos animaizinhos. Encontraram 58 espécies de aves no chamado cerrado sensu stricto, dominante na reserva, 35 nas matas de galeria e 32 em áreas de brejo. Nesse ambiente ainda vivem lagartos, macaquinhos, marsupiais, tartarugas, morcegos, pequenos felinos, lobos-guará e várias espécies de serpentes – que, para a sorte de certos visitantes, são pouco abundantes. 

No levantamento das características da RPPN também estão aspectos apurados pelo historiador Paulo Bertran. Seus registros afirmam que a denominação da localidade em que se situa a reserva deriva do seu primeiro dono, “o riquíssimo sargento-mor Antônio Rodrigues Frota”, natural de Lisboa. Deve-se a ele e a seu sogro a construção da Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo, onde foi enterrado, em 1774, próximo à tradicional ponte de madeira sobre o rio das Almas, bem no centro de Pirenópolis. 

O velho senhor construiu no local um palácio que existiu até 1828 e que na opinião de Bertran foi a maior residência erguida em Goiás no século 18 e uma das maiores do Brasil naquele século, similar à mineira Casa dos Contos de Ouro Preto. Teria Frota adquirido quase todas as lavras de ouro da Serra dos Pireneus, “inclusive aquela que encerra o córrego Vagafogo, em cujo médio vale insere-se a Reserva Natural Flor das Águas”.

Os descobridores do ouro e fundadores do arraial de Pirenópolis foram dois portugueses dissidentes de bandeiras do explorador paulista Anhanguera. Ao longo do rio das Almas investigações recentes mostram vestígios da mineração – montanhas de pedras e terras removidas no passado, principalmente no sopé e ravinas do maciço dos Montes Pireneus, onde ao platô se encontram sinais de grandes obras de engenharia para a exploração de minerais. 

As pedras ainda são tradição, entre elas “a consagrada pedra de Pirenópolis, usada para pisos e revestimentos”, cuja extração, como ressalta Paulo Bertran, “afeta os leitos dos ribeirões, assoreando-os”.

A Serra dos Pireneus é um marco inconfundível da geodiversidade brasileira, como atesta o geólogo Tadeu Veiga, diretor técnico da empresa de consultoria Geos e que também assina o Plano de Manejo da RPPN. Ele se refere à variedade expressa por rochas de subsolo, relevo, solos e até águas subterrâneas e superficiais. Dali vertem águas formadoras de duas grandes bacias hidrográficas, Tocantins e Prata. “Essa cumeeira das águas tem representado um espaço para evolução diferenciada de inúmeras espécies vegetais e animais, características de cerrado de altitude”, enfatiza.

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