O pato-mergulhão Mergus octosetaceus está, infelizmente, entre as espécies mais ameaçadas do continente americano e no mundo. Dentro da família dos patos apresenta a característica peculiar de alimentar-se exclusivamente de peixes e larvas de insetos aquáticos capturados visualmente em rios de corredeiras. Outra característica única na família é o fato do casal manter-se unido mesmo fora do período reprodutivo, bem como o macho atuar diretamente na vigilância externa do ninho enquanto a fêmea incuba e ajudar na alimentação e proteção dos filhotes.
Os ninhos são construídos em buracos estreitos em paredões rochosos, onde no fundo da cavidade a fêmea forra o chão com uma camada grossa de penugens retiradas do seu peito e abdômen. De uma a três vezes por dia ela sai para alimentar-se, encontrando-se com o seu parceiro no rio abaixo do ninho. Enquanto está fora por mais ou menos uma hora cobre os ovos com as penugens excedentes tanto ajudando para mantê-los aquecidos quanto para deixa-los menos visíveis para um possível predador.
Embora sua ocorrência histórica abrangesse os biomas Cerrado e Mata Atlântica, atualmente as populações remanescentes conhecidas estão todas no Cerrado. Sua nidificação coincide com a estação seca do bioma, indo de maio a setembro.
O programa PAN Pato-mergulhão é financiado principalmente pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e coordenado pela Funatura, dentro do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Pato-mergulhão. Nesse programa, atuam diversas organizações governamentais e não governamentais, sendo o segmento coordenado pela Fundação responsável pela atualização dos números populacionais da espécie, pela busca de possíveis novas populações em rios ainda não avaliados nos últimos 20 anos ou naqueles com potencial para ocorrência do pato-mergulhão. Também avalia a situação atual dos rios para buscar potenciais áreas de soltura de exemplares vindos da reprodução da população mantida em cativeiro, outro dos objetivos do PAN Pato-mergulhão para os próximos anos.
Desde 2019 e até o momento, a equipe da Funatura percorreu cerca de 2.000km de rios entre a região sul dos estados do Maranhão e Piauí e o oeste da Bahia. Outros grupos associados ao programa também percorreram rios nos estados de Minas Gerais, Bahia e Tocantins, aumentando ainda mais a cobertura já efetuada pelo Programa PAN Pato-mergulhão.
A partir do dia 22 de maio de 2023 a equipe da Funatura irá fazer a avaliação de rios nas bacias situadas na região central de Goiás, desde a região logo a norte do Distrito Federal até às proximidades de Goiás Velho. Essas avaliações são feitas descendo os rios em pequenos botes infláveis, com pelo menos duas pessoas experientes com a espécie e no manejo do bote. Por serem rios com corredeiras, saltos e gargantas, é necessário fazer uma varredura constante dos mesmos, mas com os cuidados obrigatórios de segurança. Para evitar perder o registro de indivíduos, a equipe acampa nas margens do rio no final do dia e amanhece na beira do mesmo, diminuindo a chance de exemplares passarem sem serem detectados.