O Plano de Ação Nacional (PAN) Pato-mergulhão é um importante projeto de monitoramento ambiental do bioma Cerrado. Tem como prioridade verificar a situação populacional de locais de ocorrência histórica da espécie de ave aquática mais ameaçada da América Latina.
O pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) é considerado o “embaixador das águas brasileiras”, por ser um indicador de boa saúde ambiental dos rios onde vive. É encontrado nos biomas Cerrado e Mata Atlântica e tem uma população atual com cerca de 200 a 250 indivíduos. Os animais reproduzidos em cativeiro – que estão atualmente no Zooparque Itatiba (SP) – são uma ferramenta adicional para evitar a extinção.
Em 2018, a Funatura, representando as entidades participantes do PAN Pato-mergulhão, recebeu apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza para aliar a pesquisa e o conhecimento científico às boas práticas de conservação da espécie.
Em 2019, a equipe da Funatura desenvolveu o censo da população do Rio Novo (TO), desde a Estação Ecológica da Serra Geral até a Cachoeira da Velha, famoso ponto turístico do Parque Estadual do Jalapão. O trabalho foi realizado em conjunto com o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), órgão ambiental do governo do Estado do Tocantins, e a Universidade Estadual do Maranhão (Uema/Campus Caxias).
Dois novos ninhos
Os resultados do projeto foram comentados pelo coordenador do projeto pela Funatura, biólogo e doutor em Ecologia, Paulo de Tarso Antas: “Houve incremento populacional nos últimos 10 anos, o que é uma excelente notícia. Dois novos ninhos foram encontrados, incluindo a Estação Ecológica da Serra Geral, em Tocantins, em 2020, como mais uma área de reprodução. Até então havia quatro casais reprodutivos conhecidos. Atualmente, essa é a maior parcela da população mundial em unidades de conservação de proteção integral”.
A Fundação é parceira informal do projeto Evitando a Extinção do Pato-Mergulhão no Corredor Veadeiros Pouso Alto-Kalunga (GO), desenvolvido pelo Instituto Amada Terra e financiado pelo Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF) do Cerrado, com apoio do Instituto Internacional de Educação do Brasil, Conservação Internacional e Fundação MAIS Cerrado.
Na Chapada dos Veadeiros (GO), o Instituto Amada Terra encontrou um ninho ativo e estabilidade populacional no Rio Tocantinzinho, considerando os dados do trabalho realizado na mesma área, pela Funatura, em 2009. O Instituto também desenvolveu ações de conscientização local sobre a espécie e lançou um Manual de Boas Práticas para de conservação e de visitação de locais em que o pato-mergulhão vive.
O PAN verificou o sucesso da regulamentação do rafting, feita pelo Instituto Naturatins, que evitou essa atividade na temporada reprodutiva e de muda, entre agosto e setembro, na seção do Rio Novo até a Cachoeira da Velha. Deslocados pelos barcos no rio, os patos-mergulhões afastam-se significativamente dos ninhos ou de suas ninhadas, além dos locais principais de alimentação.
No Alto Rio Araguari (MG), o Instituto Terra Brasilis mostrou uma estabilidade no número de indivíduos em relação à década anterior, mas apontou os riscos para a espécie: retirada de areia para construção, que turva a água e gera assoreamento; uso de redes de pesca, que podem potencialmente afogar patos enredados; e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) planejadas para essa bacia hidrográfica.
O PAN Pato-mergulhão está em seu segundo ciclo (2018 a 2023). O primeiro ciclo abrangeu o período de 2006 a 2016.
Coordenador do projeto:
Paulo de Tarso Zuquim Antas – Biólogo, Doutor em Ecologia