“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. As palavras de Guimarães Rosa, célebre autor de Grande Sertão: Veredas”, ressoam na travessia da Funatura em mais de 30 anos de atuação no território do Sertão das Gerais.
A Fundação Pró-Natureza – Funatura esteve fisicamente longe do território durante a pandemia de 2020 a meados de 2022, período em que participou virtualmente de reuniões e diálogos. Agora, de volta à normalidade, estar pessoalmente na região foi um alento de esperança e alegria.
Pedro Bruzzi, Superintendente da Funatura, e Cesar Victor do Espírito Santo, Pesquisador e Coordenador de Projetos, foram de Brasília a Januária, Minas Gerais, para essa volta presencial que aconteceu em virtude da participação da organização na reunião do Conselho Consultivo do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu.
“A Funatura sempre valorizou a importância que a região tem. Esteve por 10 anos à frente da secretaria executiva do Conselho do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu, e em 2021 passamos o bastão para o Instituto Ekos, está executando esse papel”, explica Pedro Bruzzi.
Durante a reunião, Cesar Victor, que por anos coordenou o projeto do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu fez uma retrospectiva histórica. A Funatura teve papel central na criação e ampliação do Parque Nacional do Grande Sertão Veredas e na criação e implementação do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu. Para Cesar, foi por meio da ampla com a participação de vários parceiros, tanto do poder público, como da sociedade civil, que o Mosaico se tornou uma realidade.
Para ele, além de todas as excelentes atividades de pesquisa e conservação que foram realizadas, um dos principais destaques da atuação da Funatura e parceiros foi a sensibilização e mobilização das comunidades locais sobre a importância das Unidades de Conservação que compõem o Mosaico e do Mosaico para o território. “Parques Nacionais precisam do que eu chamo de ações-amigas para terem sucesso, e aqui elas são, por exemplo, o turismo cultural e o extrativismo sustentável de produtos nativos do Cerrado, como uma opção de geração de renda para as comunidades locais, que assim vão entender o valor do Cerrado em pé”, ensina Cesar, uma vez que assim valoriza-se não apenas os ativos naturais que o parque tem, mas também toda a cultura viva, que foi imortalizada na fabulosa obra de Guimarães Rosa.
“A ideia é que o parque cumpra com seus objetivos de conservação da biodiversidade, das águas e das paisagens, mas também possa trazer desenvolvimento sustentável para o território”, afirma Cesar. Essas atividades são essenciais. Segundo os especialistas da Funatura, um parque não pode se manter sem o envolvimento das comunidades do entorno, com as prefeituras e com os órgãos que atuam na região, porque o parque pode e deve trazer benefícios a todos e todas. Pedro lembra da importância de olhar para o território com uma abordagem conceitual de bio-região, que envolve as Unidades de Conservação e também as populações locais compostas por terras indígenas, quilombos, assentamentos, produções agrícolas, produções artesanais, extrativismo e tantos outros, o que reforça o conceito de mosaico.
Um pouco da nossa história no território
A articulação para a criação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas começou em 1986 e durou 3 anos, até que em 12 de abril de 1989 foi assinado o Decreto-Lei 97.658 de criação da Unidade de Conservação. O projeto foi liderado pela Funatura com base nos estudos coordenados por Maria Tereza Jorge Pádua, que foi também a responsável por convencer o então Presidente José Sarney a se solidarizar com a preservação do bioma. O presidente ficou especialmente sensibilizado ao saber que a região consiste no cenário da obra de Guimarães Rosa, e este foi um trunfo favorável à decisão.
Em 2004, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), chefiado pela Ministra Marina Silva, apoiou fortemente a ampliação do Parque. A Funatura, mais uma vez, juntou forças com organizações parceiras e a sociedade civil para pleitear a ampliação do parque, que aconteceu no mesmo ano. Essa vitória tornou o Parque Grande Sertão Veredas o maior parque da região do Cerrado.
Outra forte atuação da Funatura foi na proposta de reconhecimento oficial do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu junto ao MMA, e na execução e coordenação do Projeto de Elaboração do Plano de Desenvolvimento Territorial de Base Conservacionista (DTBC) do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu em 2009 e sua revisão e atualização em 2019. Esse plano tem o objetivo de promover o desenvolvimento regional integrado ao manejo das Unidades de Conservação, abordando temas como extrativismo vegetal, turismo ecocultural, agroecologia, agronegócio sustentável, recursos hídricos e a gestão integrada do Mosaico.
Conheça os Parques:
O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu abriga mais de 140 cavernas e tem mais de 80 sítios arqueológicos catalogados. Também é terra do povo indígena Xakriabá. A região é cortada pelo Rio Peruaçu, que é afluente do Rio São Francisco.
A Unidade de Conservação foi criada em 1999, e possui uma área de mais de 56 mil hectares, que compreende os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, na região norte de Minas Gerais.
O Parque Nacional Grande Sertão Veredas homenageia Guimarães Rosa. O escritor esteve no Sertão em uma expedição de pesquisa pelo Cerrado mineiro, a fim de colher insumos para sua obra. Criado em 1989 através da Fundação Pró-Natureza – Funatura, em parceria com o Ibama, o parque tem sede no município de Chapada Gaúcha, porém seus 230 mil hectares se estendem pelos municípios de Formoso e Arinos, em Minas Gerais, e Cocos, na Bahia. Considerada uma das maiores unidades de conservação de proteção integral do Cerrado.