Florestas urbanas e a iminente destruição de um bosque no Gama

Por Funatura

7 de fevereiro de 2025

Artigo de Cesar Victor do Espírito Santo

Coordenador de projetos da Funatura e membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama)

Florestas existentes em perímetros urbanos, naturais ou plantadas, são essenciais para a boa qualidade de vida das populações que vivem nas cidades. Geram conforto térmico, aumentam a infiltração em solos expostos, diminuem alagamentos, protegem mananciais, abrigam a biodiversidade, removem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e aumentam a resiliência de áreas urbanas frente aos impactos adversos da mudança do clima. 

Acrescenta-se a isso o fato de florestas urbanas serem essenciais para proporcionar à população, em locais próximos às moradias, momentos de contatos com a natureza que favorecem a saúde humana, especialmente a mental, caracterizando-se como uma das estratégias de apoio psicossocial. É muito agradável fazer caminhadas e desfrutar de áreas sombreadas, escutar o barulho dos pássaros, ter contato com árvores e outras plantas de diferentes espécies, enfim, respirar ar puro. Bom para o corpo e bom para a mente. 

O Plano Piloto de Brasília e os lagos Sul e Norte têm uma posição privilegiada no que se refere à existência de áreas verdes em todas as suas extensões. O mesmo não acontece com a maioria das demais cidades das regiões administrativas do Distrito Federal. Aliás, carecem bastante de áreas verdes. É necessário que o Governo do Distrito Federal (GDF) implemente uma forte política pública visando à formação de florestas urbanas e outras áreas verdes em todas as cidades do DF. 

Até o momento, o que se vê são algumas medidas tímidas para implementá-las e um forte lobby para alteração de áreas rurais, que ainda têm áreas de Cerrado, em áreas urbanas, conforme vem acontecendo com as revisões do Plano de Ordenamento do Território do DF (PDOT) ao longo da história e que está se repetindo com a atual revisão. 

Visando diminuir essas diferenças e fazer frente às mudanças climáticas que já estão acontecendo em nosso “quadradinho”, o GDF lançou, em 2021, o Plano de Enfrentamento aos Impactos Adversos da Mudança Global do Clima para Reduzir as Vulnerabilidades e Ampliar a Adaptação no Distrito Federal. Entre as medidas abordadas no plano, uma das principais refere-se à formação e à manutenção de florestas urbanas objetivando ampliar áreas verdes nas cidades do DF. 

Contrariando o que está no referido plano de enfrentamento e no bom senso que deveria pautar as ações do poder público, o GDF está prestes a realizar algo extremamente nocivo e inaceitável a um bosque localizado na cidade do Gama, na SHIS Norte. Sob a justificativa de implantar no local um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), serão derrubadas dezenas de árvores de espécies nativas do Cerrado e exóticas, plantadas há cerca de 50 anos pela própria comunidade. Além da contradição do ponto de vista ambiental, um bosque como esse é de extrema importância para o próprio trabalho dos centros de atendimentos psicossociais. Trata-se de uma dupla contradição. 

Será que esse plano de enfrentamento é mais um que ficará apenas no papel? Ou será que foi elaborado para mostrar à população que o governo está “preocupado” com o enfrentamento às mudanças climáticas sem o real compromisso com a sua implementação? 

Ressalte-se que no Gama há outras áreas, inclusive mais bem localizadas, para receber o referido Centro de Atenção Psicossocial. Entendo ser inconcebível o próprio GDF derrubar árvores dentro da cidade em área utilizada pelas comunidades locais, desrespeitando o valor histórico, ambiental e social, agindo de forma contrária ao que se defende e planeja-se para fazer frente às mudanças climáticas. 

A comunidade do Gama, especialmente moradores próximos ao bosque e ambientalistas, tem feito uma série de manifestações contrárias à localização de implantação do CAPS e pela manutenção do bosque. Quero crer que o senhor governador Ibaneis não esteja sabendo o que está acontecendo e que determine que o CAPS seja construído em outra localidade da cidade. Árvores são para serem plantadas e cuidadas, e não derrubadas!

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