Os patos-mergulhões estão criticamente ameaçados de extinção. Só existem cerca de 200 patos dessa espécie na natureza. Parte deles está na região do Jalapão, no Tocantins. Foi lá que os pesquisadores Marcelo Barbosa, do Instituto Natureza do Tocantins (Naturantins) e Paulo Antas, da Funatura, desenvolveram um novo método para aumentar o número de locais para ninhos da espécie e proteger os ovos de possíveis predadores.
Resultados da pesquisa foram publicados na revista britânica Cotinga, do Neotropical Birding and Conservation Club. Edição foi lançada no Reino Unido durante a Global Birdfair, maior feira global de observação de aves. A publicação mostrou como os pesquisadores manejaram a entrada de dois ninhos nas margens do Rio Novo para dar mais segurança à reprodução do pato-mergulhão. Nesta região, o gavião-preto e a lontra são os potenciais predadores da espécie.
O pato-mergulhão depende de cavidades naturais em árvores para fazer seus ninhos. Os pesquisadores da Funatura e do Naturantis reduziram o tamanho da entrada de um dos ninhos com tábuas de madeira, criando uma espécie de tampa. Isso diminuiu a possibilidade de acesso dos predadores. Também foi utilizado material areno-argiloso misturado a raízes pequenas, para dar melhor fixação e disfarçar o manejo.
Criou-se ainda uma “saída de emergência” para a mãe durante a incubação, acima da entrada principal. Essa segunda abertura poderia servir como uma rota de fuga caso um predador tentasse acessar o ninho pela entrada principal.
MENOR EXPOSIÇÃO A PREDADORES
Reduzir o diâmetro da entrada do ninho diminuiu a exposição da câmara de incubação e ajudou a proteger os filhotes. A entrada original era muito larga, permitindo fácil visualização do interior do ninho. Diâmetro foi reduzido de 27x33cm para 11x16cm – menos da metade do tamanho original.
Com o uso de câmeras e observação direta, verificou-se que essa mudança não afetou a utilização do ninho pelo casal. As dimensões da entrada artificial se mostraram adequadas para o acesso da fêmea e não interferiram na saída natural dos filhotes.
SEGUNDO NINHO
Em um segundo ninho, os pesquisadores aumentaram o buraco em uma das árvores que era utilizada até 2015 pelas fêmeas do pato-mergulhão para fazer ninhos. Porém, o crescimento natural da casca reduziu o diâmetro da entrada e impediu a entrada dos animais.
Durante a pesquisa, esse diâmetro foi artificialmente aumentado para permitir novamente a entrada da fêmea.
No mesmo ano,essa árvore voltou a ser usada para incubação do pato-mergulhão. Novamente, o manejo da entrada pelos pesquisadores foi rapidamente aceito pela espécie, aumentando a disponibilidade de cavidades para ninhos.
SUCESSO REPRODUTIVO
Esses bons resultados mostram que essas técnicas também podem ser aplicados nos outros locais do país onde os patos-mergulhões ainda estão presentes – ampliando as possibilidades de reprodução dessa espécie criticamente ameaçada. O manejo das entradas dos ninhos mostrou-se crucial para minimizar eventos de predação e aumentar o sucesso reprodutivo do pato-mergulhão.
O estudo faz parte das ações do Naturatins de monitoramento e conservação do pato-mergulhão e do projeto da Funatura que estuda os gargalos reprodutivos do pato-mergulhão – este último com financiamento do Fundo de Espécies Ameaçadas Mohamed bin Zayed em 2024. Projeto conta ainda com participação da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Foto principal: Sávio Freire Bruno